terça-feira, 26 de abril de 2011 às 05:59
Presídio feminino ganha área de convivência para mães e bebês
Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade, na Grande BH, ganha do Servas espaço com brinquedos de estímulo para bebês, que podem ficar com as mães até um ano de vida
Marcelo Sant'Anna/EM/D.A Press
 Em Vespasiano, unidade prisional do estado acolhe atualmente 47 mulheres e 47 crianças, que adoraram os brinquedos doados

Entre paredes rosas, o tom carinhoso e delicado resgata o valor antes perdido. O local arejado e iluminado desfaz um passado, não muito distante, marcado por cicatrizes cinza e muitas vezes eternas. Lá dentro, as grades e os cadeados foram trocados por berços, mamadeiras e fraldas. É no Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade, em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte, que 47 mulheres praticam a nada fácil lição de ser mãe. Único no país a oferecer esse direito às presidiárias grávidas, o local, inaugurado em janeiro, recebeu, na terça-feira, do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) uma área de convivência, com brinquedos de estímulo visual e auditivo para os bebês, que ficam com as mães até completarem um ano. Depois desse convívio, as crianças são entregues a parentes para que essas mulheres cumpram suas penas de acordo com o crime cometido.

De bonecas de todos os tipos a carrinhos coloridos, o novo espaço, de 72 metros quadrados, mistura brincadeiras com aconchego e foi construído na área externa do Centro de Referência, em uma parte coberta para que os bebês não peguem sol nem chuva. Para as mães, que possivelmente passarão um bom tempo com as crianças no espaço lúdico, foi construída uma lavanderia, com máquina de lavagem e secagem de roupas e tanques. Além disso, o Servas doou 40 berços com móbiles e colchões para que mãe e filho possam ficar juntos nos quartos, que são divididos entre oito mulheres. “Esse é o primeiro exemplo desse tipo de presídio no Brasil. Nos outros locais, as mães são separadas dos filhos logo quando eles nascem. Aqui é permitida e de direito essa relação de afeto e carinho tão importante nos primeiros meses de vida”, ressalta a presidente do Servas, Andrea Neves, que diz ainda que as doações foram pequenas contribuições a esse universo tão importante de Minas.

Além do espaço para as crianças, dois convênios vão permitir que as detentas tenham curso de alternativas de renda. Um deles foi assinado entre a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e o Sesi/Fiemg (Serviço Social da Indústria) para oferecer cursos de artesanato em chinelos, bordado artesanal, confecção de bijuterias, manicure e pedicure. Com o Instituto Educacional Edna Roriz, a parceria vai permitir que as mulheres aprendam a fabricar produtos de higiene, como sabonetes líquidos, detergentes, amaciantes e pães e geleias.

Se dependesse de Edivalma Pereira da Silva, de 20 anos, seu tempo com a filha, Gabriele Vitória, de 6 meses, seria prolongado. “Aqui a sensação é a de que não estamos em um presídio, mas numa casa aconchegante e repleta de amor. Sinto-me protegida e recebo, assim como minha pequena, muito carinho”, revela, acrescentando que quando cumprir sua pena de 3 anos e 6 meses por tráfico de drogas quer arranjar um bom emprego para poder cuidar de Gabriele. “Sofro só de pensar na nossa separação, daqui a quatro meses. Mas sei que tenho que ser forte para, em liberdade, recomeçar outra vida.”

O desejo de querer mudar o futuro é também o sonho de Tarciana Pereira, de 20, presa por tráfico de drogas e que deve ficar detida por 5 anos e 7 meses, que afirma, sem pestanejar, que o Centro de Referência é a luz do fim do túnel para quem não acreditava em soluções. “Aqui nós ganhamos força. O carinho com os nosso filhos e conosco nos dá a segurança e a autoestima de que tanto precisamos”, avalia. De acordo com a diretora da unidade, Mariana Theodossakis, essa visão futura de novos caminhos e maior autoconfiança em si são o papel do centro, que tem o objetivo de não apenas humanizar a relação de afeto entre as crianças e as mães, mas de proporcionar às mulheres alternativas de uma vida melhor. “A gente não esquece que elas estão aqui porque cometeram uma ilegalidade, mas também não esquecemos o nosso papel humano. As crianças que estão com elas têm direito à liberdade”, destaca Mariana.

Ampliação

Em até dois meses, o Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade será expandido, com oito novos alojamentos, num total de 110 vagas. Atualmente, há 47 mulheres, cada uma com uma criança. Em Minas Gerais, há 87 unidades prisionais, entre penitenciárias, presídios, casas de albergados, centros de apoio e hospitais. Ainda em 2009, o estado deve inaugurar quatro unidades (oferecendo 1.388 vagas), fazer duas ampliações (com mais 306 vagas) e assumir 15 unidades da Polícia Civil, com 991 vagas.

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