Presas contam drama da superlotação na cadeia

quarta-feira, 2 de março de 2011 às 06:26
O Presídio Feminino de Votorantim terá capacidade para 768 vagas
Notícia publicada na edição de 25/02/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 008 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) deve transferir 34 presas da cadeia feminina de Votorantim nos próximos dias, segundo o prefeito Carlos Augusto Pivetta. Na última terça-feira ele se reuniu com o secretário Lourival Gomes, quando acordou remoção de 34 detentas nos próximos dias. Atualmente o prédio abriga 184 mulheres divididas em oito celas, com compacidade para, no máximo, 48 pessoas no total.

Segundo o delegado responsável, Paulo César Martins, ao menos 20 detentas devem ser transferidas em breve: sete condenadas, sete em finalização de processo e/ou semiaberto e as cinco grávidas e mães que ainda amamentam. "Vários órgãos já fizeram de tudo para fechar essa cadeia. Há vários laudos que atestam as condições impróprias do prédio. Mas às presas resta esperar por vagas no sistema penitenciário ou a conclusão do Presídio Feminino (previsto para o final do ano)", lamentou.


Realidade na pele


Até que isso aconteça, quem espera são as presas, angustiadas pela falta de todo tipo de informação e condições humanas de vida. Thays da Conceição Farias, de 28 anos, é um exemplo de detenta descrente no sistema penitenciário. Presa há um ano e três meses por tráfico de drogas, em Sorocaba, ela foi condenada a regime fechado por um ano e oito meses. "Cumprirei minha pena toda aqui, numa cela pequena, com 21 mulheres que brigam pelo mínimo de espaço", disse ela que há nove meses pariu a pequena Giovana, que está com a avó materna e seus três irmãos, de 12, 9 e 5 anos. "Cheguei grávida de três meses, passei a gestação toda aqui, quase tive minha filha na cela, amamentei quatro meses a Giovana num quarto, separado, mas igualmente pequeno e por fim, tive que me despedir e continuar brigando por espaço", resumiu ela, que se diz arrependida por ter traficado e consumido drogas como cocaína.

"Como sou uma das mais velhas de casa, tenho meu espaço garantido. Mas as novatas disputam a "praia" (espaço de quatro colchonetes) no chão e fazem rodízio para dormir. Mesmo assim é difícil comer, lavar roupa e dormir no mesmo local onde há um boi (fossa no chão)", reclama ela, que garante não ter mais lágrimas para chorar. Michelli Santos Oliveira, de 22 anos, é outra que também reclama do aperto. Grávida de sete meses e meio e recém-chegada (há dois meses), ela diz que vive de doação: doação de espaço físico para respirar, para circular, para dormir e mais, como não recebe visitas já que toda a família é do Vale do Ribeira (divisa com o Paraná), depende das colegas de cela até para lavar roupa, com doação de sabão.

"É horrível fazer necessidades de croque, na frente de todo mundo, naquele aperto. Me arrependo demais pelo que fiz, me sinto culpada por sujeitar meu filho a algo que eu cometi", disse ela, presa por tráfico de drogas em Quadra, junto do marido. Nessas circunstâncias, o que ela mais teme é pela vida do bebê. "Temos doenças de pele, tosses agudas, coceiras. Por mais que tentemos, não há higiene. A comida é ruim. Tenho muito remorso e, apesar de tudo, temo o futuro, de como será o parto, minha despedida do bebê, o segundo filho que deixarei para trás", falou se referindo a Jenifer, sua filha mais velha, de quatro anos, que vive com o pai em Apiaí. "Depois disso aqui, meu ex-marido não vai mais deixar eu vê-la", emocionou-se. Mas apesar de toda superlotação, ontem, tinha quem comemorava.

Gislaine Patucci, de 24 anos, se muda hoje da cadeia para o Hospital Presídio Maternidade da Capital, onde as gestantes, parturientes e mães que amamentam os filhos ficam até que as crianças completem seis meses. Com a pequena Larissa, de 14 dias, no colo, ela garantiu ter vivido momentos difíceis. Foi presa há quatro meses, quando estava grávida de cinco meses, junto com a mãe, Cleide Patucci, de 47 anos, por associação ao tráfico de drogas em Porto Feliz. "Dividia cela com 22 mulheres, dormia com baratas, temia as coisas que caiam do teto, um horror", afirmou ela que até ontem estava numa sala separada, na carceragem, um pouco mais ampla, onde ficam as mães parturientes que amamentam. "Apesar dos pesares, aqui estou sozinha e não há barulho, posso ficar com minha filha. Estou ansiosa pelo hospital, parece que terei mais espaço e atendimento médico", disse.

A mãe dela, Cleide, presa pela primeira vez, chorou ao ouvir a filha verbalizar sua gestação na cela apertada. "Se não queremos isso para nós, quanto mais para os filhos ou netos", finalizou. Segundo a SAP, o Presídio Feminino de Votorantim terá capacidade para 768 vagas, sendo 660 no regime fechado e 108 no semiaberto. O prédio será um dos primeiros a ser construídos respeitando as necessidades femininas, principalmente ligadas à saúde; além de setor de amamentação, creche, biblioteca, pavilhão de trabalho e ala para visita íntima. A medida é inédita, uma vez que as unidades femininas atuais são masculinas adaptadas.

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